Estudante de Administração do Agronegócio pelas Faculdades FAEL (Faculdade Educacional da Lapa), polo Lorena (SP), a hoje pecuarista Ericka Christina Antunes Lauermann é sócia proprietária do Brahman Hans, criatório de Gado da Raça Brahman PO na cidade de Guaratinguetá (SP), e conselheira da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB). “Mas o meu título mais importante é ser a esposa do Hans, a mãe da Monicka, do Nickolas, da Rebecka e da Biancka e avó do Eduardo”, destaca a criadora. Saiba um pouco mais da história dessa Mulher do Agro.
Como foi seu primeiro contato com as “coisas do campo” e qual sua relação com o agronegócio.
O Hans sempre foi fazendeiro. Ele tinha essa fazenda aqui como uma casa de veraneio para descanso e uma futura aposentadoria, já que ele também é empresário no setor de fabricação de papel reciclado na cidade de Potim/SP. Essa fazenda já tem pelo menos uns 40 anos. Nós ficamos juntos em 2009 e eu passei a acompanhá-lo nas visitas à fazenda uma vez por mês, pois precisávamos fazer o pagamento dos funcionários.
Nessa época ele trabalhava com gado comercial, e o foco era todo concentrado na venda de bezerros. Eram mais ou menos 150 matrizes e três touros. À época eu não participava de nada, apenas passeava na fazenda. Depois de uns meses eu comecei a ajudar na parte administrativa, que era a minha área de trabalho.
Em 2016 iniciamos nosso processo de transformação da fazenda em criatório de gado PO. Foi então que compramos nosso primeiro touro PO, um Brahman da Portobello. Com os resultados dos bezerros na balança, chegamos à conclusão de que estávamos no caminho certo. Hoje somos um criatório de gado Brahman PO, associados das Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e participamos do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ). Nossos animais são todos criados a pasto devido a nossa topografia muito acidentada e, desde 2019, quando começamos a participar da Expobrahman com eles, ganhamos alguns prêmios.
Quais atividades que você desenvolve no seu dia a dia, tanto dentro quanto fora da porteira?
Em anos anteriores, antes da pandemia do Covid-19 em 2020, como já disse, morávamos no centro da cidade de Guaratinguetá, que fica a 35km da fazenda. Nessa época, mais precisamente entre 2010 e 2019, eu participava do Lions Clube de minha cidade, do qual eu fui presidente por duas vezes. Por conta da pandemia, em março de 2020, nos mudamos definitivamente para Fazenda e, a partir daí, eu assumi direto as tarefas administrativas relacionadas ao gado. Hoje, “fora da porteira”, minhas responsabilidades são minha mãe, meus quatro filhos, meu neto e o Hans, que está o tempo todo ao meu lado me ajudando, me orientando e cuidando da fazenda quase que exclusivamente do curral para dentro.
Atualmente você é uma das Conselheiras da Associação de Criadores de Brahman do Brasil (ACBB). Fale um pouco mais sobre o seu trabalho no conselho da entidade.
Nós fazemos parte da ACBB desde 2017. Como estávamos entrando na criação de gado Brahman PO, achamos que seria o correto participar da associação para ter mais contato com os criadores e aprender como tirar melhor proveito da raça. Minha participação como Conselheira é recente. Fui convidada a participar em outubro de 2020 e, por conta da pandemia, ainda não tivemos muitas possibilidades de realizações.
Do ponto de vista de criadora, como você avalia o momento atual da pecuária nacional? Como em sua visão, a pandemia impactou nesse setor? E o que você acha que pode ser feito para que a atividade continue a crescer de forma sustentável e produtiva?
Para a pecuária brasileira o momento é de grande crescimento. De acordo com informações da EMPRAPA, somos um dos países que mais exporta carne; por conta de nossa qualidade nos tornamos competitivos no mercado e nosso produto chega a quase 150 países. A criação de bovinos é a atividade que mais cresce. Eu não acho que a pandemia tenha tido relação direta com esse aumento, pois o Brasil já vinha se colocando em destaque antes disso acontecer. Em 2019 tivemos um aumento de quase 15% nas exportações de carne bovina, o que continuou nos anos seguintes, mesmo com a crise econômica gerada por conta da redução das atividades em virtude do Covid-19. A raça Brahman está há quase 30 anos no Brasil e, atualmente, temos novos criadores que vêm trabalhando para que o Brahman volte a ser uma raça de grande destaque no país.
O que tem contribuído muito para isso é o fato de que o Brahman vem tendo bons resultados no cruzamento com outras raças, seja de leite ou de corte. Acredito que mais investimentos em melhoria genética pode trazer resultados a curto prazo para os criadores de gado. Menos tempo do gado no pasto, menos custo com manutenção, promovendo maior rendimento no abate.
É de conhecimento geral que, tanto na pecuária quanto em outros segmentos da cadeia produtiva de alimentos, o melhoramento genético animal e as ferramentas para avaliar e mensurar tem contribuído e auxiliado os produtores a melhorarem suas produtividades. Em sua opinião, quais os benefícios oriundos dessa prática e quais outros avanços tecnológicos fundamentais para o desenvolvimento do setor?
Então, a melhoria genética, para trazer um bom resultado para o produtor, precisa vir acompanhada de um controle na qualidade dos pastos, ou seja, genética sem comida não dá resultado. Esse pode ser o caminho para a evolução da produtividade. Como eu já disse, animais geneticamente preparados podem trazer mais benefícios ao seu usuário. Aqui na fazenda nós fazemos um trabalho desde 2019 com a produção de embriões, utilizando material genético de nossos próprios animais, cujas avaliações pela ABCZ, os classifica como touros melhoradores. Como que se faz isso? Todo rebanho tem as matrizes que se destacam e as matrizes que são comuns. Nós pegamos essas matrizes de destaque e acasalamos com touros melhoradores, o que nos dá a chance de ter bezerros que vão nos trazer resultados melhores em menos tempo. As matrizes que não são de destaque genético, aqui são utilizadas como receptoras, a chamada Barriga de Aluguel, já que a vaca Brahman cria muito bem seus bezerros. Os benefícios se identificam na balança.
Falando agora um pouco sobre o papel da mulher no agro nacional, a cada dia podemos notar que essa participação está mais ativa, presente e promovendo muitas melhorias no segmento. A que você credita esse novo momento? Quais em sua opinião, são as principais contribuições das mulheres, tanto da porteira para dentro quantos em outras áreas desse segmento?
Bom, a mulher sempre esteve presente no agronegócio, só que ela era conhecida como “a filha do fazendeiro” ou “a esposa do criador”. Ter um filho homem que participava da rotina agropecuária era o normal, mas a filha ou a esposa, trabalhavam de igual para igual com o homem, mas não eram visíveis. As mulheres eram poupadas do serviço braçal e se dedicavam mais ao estudo e capacitação. O que aconteceu foi que a tecnologia chegou nas fazendas e, com isso, as mulheres puderam exercer o seu conhecimento longe das baias. Não vou dizer que não tenha mulher que trabalha na lavoura, na cria dos animais no dia a dia, mas a maioria delas que estão hoje na agropecuária, tem mais funções administrativas. A mulher tem atuação direta em diversas áreas, como veterinária, agronomia, zootecnia, administração, condução de equipamentos agrícolas, etc.
Hoje a mulher está preparada para assumir qualquer função dentro de uma fazenda. Vale a pena ressaltar que é uma mulher que toma conta do nosso Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e vem fazendo um trabalho excepcional, colocando o Brasil entre os melhores países nesse setor.
Fique a vontade par acrescentar algo que achar necessário, um conselho, dicas para quem pretende viver da pecuária e, consequentemente, contribuir para o agronegócio brasileiro, entre outras coisas.
Nesses tempos de pandemia, a agropecuária foi um dos setores que se manteve em atividade constante. O agronegócio tem trazido inúmeros benefícios para nossa economia. Pudemos ver também que em várias regiões do nosso Brasil o êxodo rural retroagiu, e fez com que muitas pessoas voltassem para o campo trazendo de volta a agricultura familiar.
As pequenas propriedades com a utilização de animais geneticamente adequados a sua função, podem ser economicamente viáveis. Posso dizer que não é uma atividade fácil, pois dependemos de fatores externos como o clima, mas com muita disciplina, dedicação e um bom planejamento os resultados sempre serão positivos. Mesmo.
Fonte:https://animalbusiness.com.br/negocios-e-mercado/mercado-agro/mulheres-no-agro-ericka-christina-antunes-lauermann/
Por André Casagrande